quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

A Liga




“Louva-a-deus martins agarrou o marido pela cintura, enlaçou-o
ternamente, acariciou-o e fez amor com ele até atingir o orgasmo.
Depois, como é normal entre os louva-a-deus, ele, submisso
e resignado, entregou-se inteirinho para que ela o devorasse,
e assim sucedeu: louva-a-deus martins foi retraçando o companheiro
com os seus finíssimos dentes, lenta e ritualmente, até que dele
nada restou senão uma ligeira azia que a terrível amante combateu
com duas ou três dentadinhas numa folha de hortelã.
Ah. suspirou ela, que destino o meu!... amar é a minha perdição!...
E, rapidamente convocou as outras louva-a-deus para uma reunião
extraordinária, que veio a realizar-se no cimo de um loureiro,
de onde ninguém saiu sem que ficassem aprovados os estatutos
da nova-liga-feminina-para-a-defesa-dos-machos. Machistas!,
gritaram no final, em coro, as não aderentes, de temperamento
mais ardente ou de maior apetite. E, a partir daí, naquele imenso
campo de girassóis, as louva-a-deus ficaram divididas (até quando?)
em duas espécies: as que comem os machos e as que se deixam comer”.

Joaquim Pessoa

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